sexta-feira, 10 de dezembro de 2010



Quero propor uma reflexão em preparação para as festas natalinas. Ouso usar um texto de um Mestre Franciscano Medieval, Ramón Llull, que nos põe a pensar sobre o nascimento de Jesus:

Amável filho, na natureza de Deus existem a Bondade, a Infinitude, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria, a Vontade, e muitas outras dignidades estão no ser de Deus, e cada uma delas é Deus e em nenhuma delas existe ociosidade. Por isso, a Bondade não cessa de fazer bem, isto é, produzir o bem em si mesma e de si mesma, e pela Infinitude, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria e a Vontade, ela faz o bem e o engendra de Si mesma com a Eternidade, o Poder, a Sabedoria, a Vontade. Este bem engendrado é a pessoa do Filho, e o engendrador é a pessoa do Pai; e do Pai e do Filho nasce o Espírito Santo. O mesmo faz a Bondade, a Imensidão, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria e a Vontade, e ao mesmo tempo o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma natureza divina, uma divindade, um Deus. E em Deus existe uma pessoa, o Pai, por toda a Bondade, a Grandeza, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria e a Vontade, pois aquele que engendra o Filho e faz nascer o Espírito Santo é a Bondade, a Infinitude, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria e a Vontade.

O mesmo ocorre com o Filho e o Espírito Santo, que são cada um deles a Bondade, a Infinitude, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria e a Vontade. Por isso, nesta obra que Deus realiza dentro de Si mesmo, são suficientes uma paternidade, uma filiação e uma procissão. E como nessa obra existem a Infinitude e a Eternidade, não pode haver ociosidade, nem desigualdade, maioridade ou menoridade. Pois se houvesse Bondade em Deus sem a criação do bem, e Infinitude sem a criação do infinito, e o mesmo da Eternidade, do Poder, da Sabedoria e da Vontade, existiria em Deus ociosidade de Bondade, Infinitude, Eternidade, Poder, Sabedoria e Vontade, e tal ociosidade seria contra a Bondade, a Infinitude, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria e a Vontade de Deus.

Por isso, assim como é suficiente Deus ser em Unidade, basta à Unidade uma paternidade, uma filiação e uma espiração, pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo são a Bondade, a Infinitude, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria e a Vontade. E como o Pai engendra o Filho com toda a Sua Bondade, Sua Infinitude, Sua Eternidade, Seu Poder, Sua Sabedoria e Sua Vontade, existem no Filho toda a Bondade, a Infinitude, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria e a Vontade do Pai. O mesmo ocorre com o Espírito Santo, que é toda a Bondade, a Infinitude, a Eternidade, o Poder, a Sabedoria e a Vontade do Pai e do Filho, procedendo, assim, infinita e eternamente todo o Espírito Santo de todo o Pai e de todo o Filho e por todo o Pai e por todo o Filho. É natural existir amor entre pai e filho, e naturalmente o homem ama a virtude que nasce de seu ato de lembrar, entender e amar. Ora, se o pai ama o filho que é engendrado de seu corpo e do corpo da fêmea, quanto mais amaria seu filho se o engendrasse somente de si mesmo, de todo si mesmo e igual a si mesmo! E se a alma ama seu lembrar, entender e amar que nascem de sua virtude, mais amaria, se seu lembrar, entender e amar fossem sua própria virtude e fossem ela própria!

RAIMUNDO LÚLIO, Félix, ou O Livro das Maravilhas.

Oração: Ah, Senhor! Inspirai naqueles que crêem em Vós o afeto e a ação de fazerem-se semelhantes a Vós, e o irrevogável propósito de manterem-se constantes em tal pensamento, e de não terem nenhuma parte com os infiéis, e de cumprirem os mandamentos da vossa lei. Fazei-nos, Senhor, verdadeiros sem orgulho, humildes sem fingimento, alegres sem devassidão, justos sem erros, serenos sem jactância, pobres sem miséria; sem avareza, ricos; sábios mediante o estudo, sem vontade de parecer arrogantes.

RAIMUNDO LÚLIO, Do nascimento do Menino Jesus

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